Sêneca
Da Tranquilidade da Alma
Ilustrações de Hans Hans Hosse
SERENO A SÊNECA
I-
1. Observando-me atentamente, descobri
em mim, ó Sêneca, certos defeitos tão visíveis que eu os poderia tocar com o dedo; outros que se dissimulam nas regiões mais profundas; outros, enfim, que não são
contínuos, mas que reaparecem somente a intervalos. Eu não hesito em dizer que estes últimos são os mais desagradáveis de todos. Eles lembram aqueles inimigos que nos rodeiam para nos assaltar no momento propício e com os quais não se sabe nunca se se deve estar em pé de guerra, ou se se pode contar em um período de paz.
2. No entanto, a disposição na qual eu me surpreendo o mais frequentemente (pois, por que não me confessarei a ti, como a um médico?) é de não estar nem francamente
liberto de minhas crenças e repugnâncias de outrora, nem novamente sob seu domínio. Se o estado no qual estou não é o pior que possa existir, é, em todo caso, o mais
lamentável e o mais bizarro: não estou nem doente nem são.
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